Rio+20 busca alternativa 'sustentável' para indicadores econômicos
Discussão sobre uso do PIB e suas limitações estará
no topo da agenda de conferência no Brasil.
A qualquer aumento do PIB, por menor que seja, espera-se que todos
comemorem – a economia está crescendo e tudo vai bem no mundo. Se ele cai, a
economia está encolhendo, e os sinos da ruína começam a badalar.
Mas diversos
economistas há muito questionam se o PIB mede algo significativo. E, em anos
recentes, esses questionamentos foram ouvidos por um número suficiente de
governos para que o assunto entrasse em pauta.
O texto base de um
acordo – que poderá ser aprovado ou não, obviamente – diz: "Nós reconhecemos
as limitações do PIB como uma medida de bem-estar e desenvolvimento
sustentável".
"Como
complemento do PIB, nós resolvemos desenvolver métodos rigorosos e com base
científica para medir desenvolvimento sustentável, riqueza natural e bem-estar
social, incluindo a identificação de indicadores apropriados para medir
progresso (...) e usá-los de maneira eficaz nos nossos sistemas nacionais de
tomada de decisões, para melhor informar sobre decisões e políticas."
Natureza
Mas o que há de
errado com esse simples conceito cuja ascensão e queda veio a dominar nossas
manchetes?
"O PIB é
simplesmente uma medida de todo o dinheiro que nós gastamos em todas as coisas
que nós compramos – cada transação financeira, tudo isso acrescenta
crescimento", diz Andrew Simms, da New Economics Foundation, autor de
vários livros sobre o tema.
E é na natureza
indiscriminada do PIB que ele vê um problema.
"Digamos que
você tenha uma onda de criminalidade, e todos se sintam inseguros e corram para
comprar mais cadeados e trancas para suas portas e janelas. Isso apareceria
como positivo no balanço, mas não contaria a história de que algo ruim está
ocorrendo na sociedade."
No mundo do PIB,
uma sociedade que dirige é mais rica do que uma que anda de bicicleta, já que
gasta mais dinheiro.
Quanto mais rápido
telefones celulares forem trocados por modelos mais novos, mais ricos nós
somos. Derrubar uma floresta é um acréscimo para a economia nacional. Quanto
mais álcool, cigarros e petróleo são vendidos, melhor nós estamos.
Críticas
Entre as críticas ao
PIB, estão a de que mede as coisas "ruins" assim como as
"boas"; que é um balanço de curto prazo que não leva em conta fatores
de longo prazo, como acumulação de dívida; não leva em conta o "capital
natural", ou seja, bens e serviços que a natureza oferece de graça; e
também não leva em conta fatores sociais, como o quanto as pessoas são felizes.
Defensores do
status quo observam que o PIB nunca teve o objetivo de medir bem-estar social
ou ambiental.
Mas de tanto ser
medido e mencionado constantemente por políticos, líderes empresariais,
editores de jornais, há quem argumente que o PIB se tornou praticamente o único
número em uso diário que pode ser citado como evidência de que as coisas estão
ficando melhores ou piores.
Organizações como a
New Economics Foundation desenvolveram indicadores que acreditam ser mais
abrangentes e mais válidos.
A Comissão Europeia
criou um compêndio que relaciona e explica conceitos como como o Indicador de
Progresso Genuíno, Índice Ambiental de Rendimento Nacional Sustentável e Índice
Planeta Feliz.
O pequeno país do
Butão usa o famoso Índice de Felicidade Interna Bruta, que combina aspectos
como saúde infantil e nível de educação com medidas de proteção ambiental,
valores culturais e boa governança.
Mas muitos outros
países começam a trilhar o mesmo caminho.
Capital natural
O economista Dieter
Helm, da Universidade de Oxford, acaba de ser indicado para comandar o Natural
Capital Committee da Grã-Bretanha (comissão que tem o objetivo de oferecer
aconselhamento especializado independente ao governo sobre o Estado do capital natural
britânico).
Seu papel será
avaliar o valor financeiro presente em árvores, água limpa, todo o reino
ecológico, e apresentar isso ao Tesouro – que deverá, então, estar melhor
informado para tomar decisões.
Vale a pena lembrar
que o projeto Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB, na sigla em
inglês), apoiado pela ONU, calculou o valor das perdas florestais ao redor do
mundo em entre US$ 2 trilhões e US$ 5 trilhões (aproximadamente entre R$ 4,14
trilhões e R$ 10,36 trilhões) por ano.
Mas o professor
Helm também espera lançar luz sobre outras questões.
"Se você
perguntar o quanto temos cuidado dos nossos ativos na economia britânica, em
vez de apenas perguntar se o PIB subiu ou caiu um pouco, nós teremos que
responder a algumas questões difíceis."
"Por que nós
usamos todo o (rendimento de) petróleo e gás do Mar do Norte para beneficiar
apenas uma geração? Por que não guardamos nada para gerações futuras? Por que
não temos mantido nossas estradas e linhas férreas de maneira
apropriada?", pergunta.
'Além do PIB'
A implicação é que
um indicador mais sofisticado que o PIB deveria abordar essas questões.
Nem todos, porém,
estão convencidos dos argumentos para avançar "além do PIB".
"Todos sabem
que os números do PIB não são perfeitos", diz Lord Lawson, ministro
britânico das Finanças no governo de Margaret Thatcher.
"Eles são,
contudo, extremamente úteis, e quem quer que tente fingir que eles não são
úteis será alvo de piadas."
Sobre o capital
natural, ele diz que "não há como introduzir objetividade nele" e
"é usado apenas para campanhas políticas de um tipo ou de outro".
Até agora, a
maioria dos governos está com Lord Lawson. O PIB continua sendo o indicador
econômico que faz os leitores ficarem felizes quando sobe meio ponto percentual
e sombrios quando cai. O Butão está em minoria.
Mas os ministros
reunidos no Rio serão lembrados das palavras de Simon Kuznets, o economista que
inventou o PNB (Produto Nacional Bruto) 80 anos atrás: "o bem-estar de uma
nação dificilmente pode ser inferido a partir de uma medida de renda
nacional".
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