Transportar material radioativo com segurança requer um grande aparato
de proteção para a população, para a carga, o meio ambiente e as
estradas. É uma operação complexa e requer planejamento em detalhes. Nem
sempre tudo dá certo. Doze contêineres com 178 toneladas de urânio
concentrado viajaram por quase 700 quilômetros de estradas baianas e,
por fim, tiveram de voltar pelo mesmo caminho.
No dia 12 de julho, as INB (Indústrias Nucleares do Brasil) carregaram a
carga em Caetité, Bahia, onde existe uma mina de urânio. As carretas
seguiram em direção ao Porto de Salvador para embarque no navio MV Sea
Bird. O carregamento seguiria para Hamburgo e o destino final era a
usina de Malvési, na França, de acordo com informações da assessoria de
comunicação da dona da mina.
Clique para ampliar |
O transporte de carga radioativa no Brasil ocorre com alguma rotina. A
mina em Caetité tem mais de dez anos de atividade. Atualmente extrai
cerca de 400 toneladas por ano. Esse urânio é concentrado e segue para
ser enriquecido em uma parceria que o país possui com a França. O
material enriquecido retorna e segue para Resende, Rio de Janeiro, para
depois ser utilizado pelas usinas de Angra 1 e 2 como combustível
nuclear para geração de energia elétrica.
Por que desta vez a carga de urânio não foi embarcada para a França? A
resposta da INB é que a empresa de transporte contratada, a RSB Logistic,
não informou às autoridades francesas 15 dias antes do embarque em
Salvador, conforme determina a lei francesa. A INB disse que a
transportadora interpretou o prazo de forma diferente do texto legal. A
direção das Indústrias Nucleares do Brasil também estuda se penalizará a
transportadora. A RSB é uma gigante canadense do setor, com experiência
em transporte de material radioativo desde 1985.
Além das 178 toneladas de urânio, está de volta a Caetité o clima de
desconfiança com relação às Indústrias Nucleares do Brasil. Sindicato,
comissão pastoral de meio ambiente e população têm um histórico de
atritos a administração da mina, que hoje tem capacidade para extração
de 400 toneladas ao ano. Há planos para duplicá-la.
Entre os alertas que já ocorrem em Caitité, em 2008 o Greenpeace denunciou
a contaminação radioativa em amostras de água usada para consumo
humano, coletadas em área de influência direta da mineração. Em 2011, a
Plataforma Dhesca, que reúne estudiosos de violações dos direitos
humanos e é mantida pela ONU, denunciou violação ao meio ambiente saudável
e criticou o uso do carimbo “segurança nacional” para manter sob sigilo
informações desta operação, de acordo com os pesquisadores que
assinaram o relatório.
Em 2011, cerca de
2 mil moradores de Caetité saíram às ruas tarde da noite para impedir
que carretas carregadas com 90 toneladas de material radioativo
entrassem nas instalações das Indústrias Nucleares do Brasil. A
manifestação foi causada por desconfiança de que lixo radioativo seria
guardado nas instalações da mina. Descobriu-se, depois, que o material
era urânio concentrado cedido pela Marinha para as INB.
((O)) Eco
Nenhum comentário:
Postar um comentário