Um grupo de cinco indígenas colombianos da região amazônica foi à Rio+20
para defender seu papel de “guardiões da selva” e afirmar que eles,
também, podem dar sua parcela de contribuição na preservação da floresta
e no resguardo da biodiversidade. No grupo, estava Roberto Marina
Noreña, 46 anos, da etnia barasano, que saiu da terra onde vive na
divisa dos estados Vaupés e Amazonas, sudeste da Colômbia, e viajou
durante sete horas de avião, até o Rio de Janeiro, para participar da
conferência e mostrar a experiência de seu povo no manejo sustentável.
Os barasanos vivem no Rio Pirá Paraná e tem a gestão legal de seu
território desde 1991, ano da nova Constituição colombiana, que incluiu
os direitos dos povos indígenas de gerir seus territórios. A Colômbia se
destacou na região por conceder, há 21 anos, pelo então presidente
Virgilio Barco,a entrega aos povos indígenas da Amazônia dos títulos de
propriedade sobre 20 milhões de hectares.
Hoje, metade do território colombiano é coberto por florestas. E os
indígenas, que representam apenas 2% da população colombiana, detêm 30%
das áreas verdes. “Somos originários desse lugar. Foi uma conquista que o
Estado colombiano reconheceu. Temos, hoje, o nosso direito de igualdade
como qualquer pessoa do país. Culturalmente, nossos ancestrais deixaram
toda a política necessária para bem administrar os recursos do meio
ambiente”, disse Roberto Noreña.
O indígena barasano foi à Rio+20 representando a Associação de Capitães e
Autoridades Tradicionais Indígenas do rio Pirá Paraná (ACAIPI), que
desenvolveu um plano de salvaguarda da manifestação Hee Yaia Kéti Oka
(Jaguares do Yurupari), o conhecimento tradicional para o manejo do
mundo dos grupos indígenas do rio Pirá Paraná. “Para garantir nossa
existência, temos um manejo de cultivo típico, um sistema de
conhecimento e, dessa forma, temos a política de sustentabilidade”,
explicou.
Somente a associação ACAIPI reúne 17 comunidades indígenas e 39 malocas
tradicionais, com uma população de 2.500 pessoas, que vivem em uma área
de 4.500 quilômetros quadrados.
Noreña admitiu que o diálogo inicial com as autoridades foi difícil. “No
início, desconfiavam que nós não seríamos capazes de assumir essa
descentralização administrativa. Mas sempre fomos pacíficos,
responsáveis e enfrentamos as barreiras com calma”.
A experiência dos barasanos e de outros, como os piapoco e os curipaco
do rio Negro, os tanimuka e letuama dos rios Wakaya e Oiyaca, foi
reunida na publicação “Guardiões da Selva – Governabilidade e autonomia
na Amazônia Colombiana”, em espanhol, lançada na Rio+20 pela
Consolidação Amazônica (COAMA) em parceria com o programa de bosques
tropicais da União Europeia.
Para o antropólogo Martin Von Hildebrand, da Fundação Gaia Amazonas e
coordenador da COAMA, ainda que restrita ao território colombiano, que
ocupa 7% do total da Amazônia, esta experiência começa a dar frutos. Ele
defende a necessidade de trabalhar em parceria com os povos indígenas
para preservar a floresta.
“O nordeste da bacia amazônica ainda é uma região desconhecida e bem
conservada pelos povos indígenas, uma área com alta biodiversidade. Eles
são povos que já estavam aqui antes dos europeus, são culturas tão
antigas e diferentes, e não destruíram o planeta como nós. Eles têm
muito a oferecer”, disse Von Hildebrand. “Eles dão uma enorme
contribuição ao conhecimento da medicina, alimentação e proteção ao meio
ambiente. Há coisas que os indígenas entendem e que a ciência ainda não
pode medir”.
Somente na Colômbia, existem 85 etnias indígenas e 68 línguas distintas
e, segundo a COAMA, 95% dos povos detêm hoje o direito legal de gerir
suas terras.
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