Na
capital do Haiti, Porto Príncipe, a atmosfera das ruas é caótica em
todos as formas sensoriais. Os córregos e rios secam no verão e dão
espaço a verdadeiras enxurradas de lixo. Se no Brasil as políticas para o
tratamento de lixo apenas agora começam a ganhar corpo, no Haiti a
falta delas e de qualquer presença do poder público leva a proliferação
de doenças como o cólera.
Durante minha passagem pelo Haiti conheci uma rara iniciativa que destoa
desse ciclo de desesperança : trata-se de uma cooperativa de reciclagem
que coleta restos de papel para transforma-los em pequenos briquetes,
que servem como combustível fóssil nas residências. A recicladora
emprega 420 pessoas e é mantida com recursos de uma ONG escocesa e do
Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Toussaint, um haitiano robusto e de fala mansa é o coordenador da
empreitada. "Eles [os haitianos] estão começando a ver que o lixo jogado
nas ruas vale dinheiro", diz ele. Após o término do processo
tradicional de reciclagem do papel, um sistema simples de secagem e
prensa dá forma a centenas de briquetes, que susbstituem o carvão para
cozinhar e aquecer o banho. Pode não ser o ideal, mas poupa a derrubada
de árvores. "Hoje, as pessoas usam carvão para cozinhar e isso causou
muita destruição ao país", conta Toussaint. Por ano, cerca de 50 milhões
de árvores são derrubadas. Segundo números da ONU, resta apenas 2% da
floresta original do país.
É uma migalha em um país carente como o Haiti. Mas também é uma centelha que pode levar a multiplicação dessa iniciativa.
((O)) Eco
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