segunda-feira, agosto 27, 2012

Chapada dos Guimarães


Lugar, no Mato Grosso, mostra porque é um destino tão especial no coração da América do Sul


O Terra da Gente deste sábado (18/08) leva você a uma viagem pela Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. Um lugar onde, para qualquer lado que se olhe, se encontra um capricho da natureza. E os repórteres do programa (Marcelo Ferri e Sávio Domingos) exploram todos os detalhes desse endereço fantástico. Uma região que, quem diria, já foi geleira, mar, deserto e até refúgio de dinossauros. A equipe do Terra da Gente visita uma cidade de pedra, onde o tempo, o vento e a chuva transformaram o arenito em obras de arte. A Chapada é ainda um paraíso das águas, com cavernas, rios e um show de cachoeiras. São mais de 400. Um dos momentos mais interessantes é a visita à Lagoa Azul. O lugar onde a cor da água muda só por meia hora! Tudo por causa do efeito da luz do sol entre as frestas da caverna. As lentes do programa registram também as mais belas aves do Cerrado. E mostram a tradicional dança do siriri. Faz ainda uma visita a um antigo ponto de exploração de pedras preciosas na companhia de um experiente garimpeiro: Seo Salvador, que ainda espera encontrar a pedra dos sonhos. Na Hora do Rancho, uma receita de pintado. No molho, um toque de urucum, corante usado pelos índios que faz sucesso na cozinha.

TG 722 – Chapada dos Guimarães
O coração da América do Sul
Seja pelos paredões de arenito ou pelas rochas que despontam entre a vegetação. Seja pela água que desce o penhasco ou pela vida que pulsa dentro dela. Seja pelos pássaros, as flores, a cultura. Por tudo isso, a Chapada dos Guimarães é surpreendente. Um paraíso no coração da América do Sul, no meio do caminho entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Fica a apenas 70 km de Cuiabá, capital de Mato Grosso.
Olhando de perto não há como não admirar o visual. A 800 metros de altitude, a equipe do Terra da Gente vive a experiência de ficar acima de algumas nuvens. E tudo se torna ainda mais fantástico quando se descobre as transformações pelas quais este lugar passou.
Há 500 milhões de anos tudo isso estava coberto de gelo. Depois virou mar, um santuário de vida marinha, que escoou totalmente e deu lugar a um deserto. Mais recentemente, há 64 milhões de anos, havia neste lugar uma densa vegetação que servia de alimento para os dinossauros. O visual que se vê hoje é resultado do afundamento de uma imensa placa tectônica que deu origem à Chapada dos Guimarães.
As trilhas são a melhor forma de conhecer os segredos da Chapada. Os repórteres do TG caminham cerca de 5 km por uma área de preservação dentro de uma fazenda. Quem os acompanha é um grupo de biólogos e uma experiente guia local. Aniluce Brito chama a atenção para a vereda repleta de buritis, uma espécie de palmeira típica do Cerrado. O chão é de pedra e cascalho. O arenito é o responsável por algumas das obras de arte naturais da Chapada dos Guimarães, como uma ponte de pedra que o grupo encontra pelo caminho. "Ela é esculpida pela chuva, pelo vento. Ela vai se desgastando sempre de baixo para cima", explica Aniluce.
Seguindo a trilha em meio ao Cerrado a equipe do programa encontra mais um capricho da natureza. A caverna "aroe jari", que significa "morada das almas" no dialeto da etnia bororo, os índios que habitaram esta região. É a maior caverna de arenito do Brasil, com um quilômetro de galerias, completamente escuras. O salão principal tem 25 metros de altura. Mas por questão de segurança a travessia não é permitida.

Na caverna vizinha, menor, uma beleza incomparável. A água nasce entre as rochas e, em determinado ponto, forma uma piscina natural. A luz refletida no fundo de areia é responsável pela cor que dá nome à caverna: Lagoa Azul. E o mais curioso: este efeito só ocorre durante meia hora no dia. É o horário em que os raios de sol encontram espaço entre os galhos da árvore e as fendas na rocha. Pelas outras galerias o fenômeno se torna ainda mais bonito. Um presente para quem se dispôs a explorar os mistérios da Chapada dos Guimarães. Em alguns minutos o sol vai embora e o poço volta a ser como antes.
Acesso para poucos
Os caminhos da Chapada não são dos mais fáceis. Se não é água, é piso de areia fofa. Ou estrada estreita, que mal dá par passar com a caminhonete. A equipe do TG chega ao Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, uma área de 30 mil hectares protegida desde 1988. Apenas um trecho dá para andar de carro, depois só a caminhada leva ao destino.
O grupo entra por uma trilha de vegetação nativa. A subidinha exige fôlego dos participantes da aventura. Não é extensa, mas bem íngreme. O lugar é chamado de Crista do Galo. Mais à frente, a equipe chega à Cidade das Pedras. As formações das rochas lembram prédios em uma cidade. Mas habitantes aqui, só mesmo as aves.
Os repórteres do TG seguem em frente por uma área do Parque, fechada à visitação. A entrada só foi possível através de uma autorização especial e a companhia de dois guias credenciados.
Ao chegar à beira do abismo, entendemos o motivo de tanto cuidado. Um passo em falso pode significar a morte. São 200 metros de queda livre. Não é exagero dizer que estamos diante de uma obra de arte, esculpida pelo vento, pintada pelo tempo.
"A cor vermelha que se vê predominantemente no paredão é devido ao óxido de ferro no arenito e onde ele está mais exposto. Quer dizer que houve desabamentos recentes", esclarece o guia André Luiz Cumpri.
Véu de Noiva
Água e pedra. A leveza de uma contra a dureza da outra. Mas na natureza a insistência sempre vence a rigidez. O rio levou séculos para fazer o vale entre as montanhas e aos poucos também abre caminho pela rocha. Despenca por 84 metros em queda livre. Altura equivalente a de um prédio de 28 andares. Este é o "Véu de Noiva", o cartão postal da Chapada dos Guimarães. Pode ser visto há quilômetros de distância.
Ao mesmo tempo que protege a cachoeira, a rocha não resiste à força da água. Em 2008 uma pedra se soltou e causou a morte de um turista. Desde então a visita ao pé da cachoeira está proibida. O Véu de Noiva fica dentro do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Mas por aqui não há limites geográficos para os espetáculos da natureza.
No alto da serra há centenas de nascentes que formam córregos de água pura e cristalina. Mas por causa da geografia do terreno, volta e meia eles encontram quedas bruscas e aí formam cachoeiras. São mais de 400. A Cachoeira do Pingador é uma pintura. Harmonia perfeita entre pedra, água e vegetação. Daqueles lugares em que a gente chega e não quer mais sair. As piscinas naturais ficam escondidas no meio da mata. E são os peixes os protagonistas do espetáculo. Os cardumes de lambaris não se intimidam com a presença de estranhos. Pelo contrário, gostam de acompanhar os mergulhadores. A água filtrada constantemente pela areia é transparente. Permite apreciar todo o visual do poço e do rio.
À medida que ganha volume o rio oferece novas possibilidades. A equipe decide fazer uma exploração de caiaque inflável, chamado de duck – pato, em inglês. Andam pela água transparente, rodeada de mata verde. Nas piscinas naturais o caiaque desliza pela água límpida. Calmaria que termina quando o rio estreita. Em algumas partes dá para desembarcar e mergulhar. Mais à frente o Rio Claro encontra o Coxipozinho e passa a se chamar Coxipó do Ouro. Assim como este, estão na Chapada dos Guimarães os principais rios que abastecem o Pantanal. Água que já nasce dando espetáculo.
Santuário de várias espécies
A proximidade com o Pantanal e a Floresta Amazônica ao mesmo tempo faz da Chapada dos Guimarães um santuário de espécies. É só caminhar pela mata ao amanhecer para ter uma ideia disso.
Bem cedo o saí-andorinha se despede da lua. As araras-vermelhas saem do ninho. Elas passaram a noite bem protegidas pela fenda no paredão. Logo já estão sobre as árvores buscando comida.
Mas há espécies que não saem dos penhascos. É preciso ter olhar atento para ver o pequenino jibão-de-couro. Ele vive na vertical. Dá pequenos vôos para buscar comida e volta. Sempre longe dos predadores.
Do lado de baixo não falta comida para as emas. No chão elas encontram o café da manhã. No alto das árvores os araçaris se alimentam de sementes e frutinhas. A mesa é farta e florida para quem acorda cedo.
O udu-de-coroa-azul tem o peito amarelo, o dorso verde e um detalhe curioso no rabo: duas penas mais compridas que lembram uma raquete de tênis. O formato se deve à perda natural das estruturas laterais ao longo da vida. Um realce para chamar a atenção da fêmea, assim como os outros desenhos na plumagem da cabeça.
O maior tesouro está na área de Cerrado, com uma imensa diversidade de pássaros. Acompanhamos o ornitólogo Fabiano Oliveira na busca de uma das mais recentes descobertas deste lugar: o suiriri-da-chapada. O canto gravado em um dos encontros serve para atraí-lo. Em minutos, a resposta. Um casal pousa na árvore bem na frente do grupo de observadores. De asas para o alto eles cantam e repetem várias vezes um tipo de dança. É como se dissessem que são os donos do pedaço. Esse comportamento é exclusivo desta espécie.
Foi por isso mesmo que há pouco mais de 10 anos pesquisadores descobriram que este era um tipo diferente de suiriri, batizado posteriormente como o suiriri-da-chapada. Até então acreditava-se que este era o suiriri-cinzento, uma espécie irmã, que é mesmo muito parecida. Os últimos registros revelam que a espécie recém-descoberta também ocorre em outros penhascos do Planalto Central. Mas vai, para sempre, ser lembrado como autêntico morador da Chapada dos Guimarães.
A dança do Siriri
Uma flor desabrochou no interior da Chapada dos Guimarães. Foi para semear a tradição da música e da dança. O siriri está na raiz do povo matogrossense. Quem cultivou a história colhe frutos a cada estação.
"Flor do Cambambi" é o nome do grupo que brotou aos pés do Morro do Cambambi. Ele ficou conhecido há 60 anos quando pesquisadores encontraram ali o esqueleto de um dos maiores dinossauros do mundo, o abelissauro.
Os ossos fossilizados foram retirados e hoje estão em exposição no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. A descoberta científica não conseguiu acabar com as lendas sobre os ossos gigantes nos arredores do Cambambi.
"Para nós era um gigante que morreu em cima da serra. Aí vieram uns estudantes e falaram que era dinossauro, mas para nós é o gigante", conta Deodato Alves de Oliveira, cantor do grupo folclórico.
As histórias do garimpo
Depois do encontro com o grupo de dança, a equipe do Terra da Gente corta a estrada de terra vermelha atrás das histórias escondidas do outro lado do morro, pouco conhecidas pela maioria dos turistas que visitam a Chapada dos Guimarães. Lá há relíquias enterradas. E não são apenas ossos de dinossauros.
A descoberta das jazidas de diamante na década de 20 atraiu os exploradores do sertão. Os garimpos deram origem aos bairros Água Fria e Cachoeira Rica, que ainda guardam marcas do auge e da decadência do garimpo.
No auge da exploração do diamante trabalhavam na região cerca de 3 mil garimpeiros. Eles moravam em um lugar absolutamente isolado e usaram o dinheiro obtido com a pedra preciosa para construir toda infra-estrutura no lugar onde viviam: casas e estabelecimentos comerciais. Não há aqui quem não tenha a história ligada ao garimpo.
Seo Salvador é do tipo que gosta de contar histórias e nos convida para um passeio pelo passado. Ele se arruma, coloca a roupa de garimpeiro para mostrar como era na época em que ele garimpava e o pai dele também.
Seguimos nas trilhas do antigo garimpo para um ponto que já foi explorado. As pedras menos valiosas ficaram esquecidas aos montes pelo caminho. Seo Salvador elege um barranco para cavar. Com enxada e picareta encontra o cascalho. O material bruto vai para a peneira. Os olhos estão sempre atentos. É a água do rio que lava as pedras. E onde mora a esperança do garimpeiro.
Com técnica e experiência ele junta e espalha o material recolhido, remexe o cascalho e torce para que a sorte brilhe na peneira. Mas a expectativa escoa pelo rio, diminui a cada batida. A insistência é de quem já encontrou alguns tesouros.
O último Seo Salvador guarda como amuleto. Mas o diamante que mudou a vida do ex-garimpeiro foi bem maior. "25 quilates e um grão. Vendemos na época por 5 milhões de cruzeiros", conta. Com o dinheiro ele comprou o garimpo e de empregado virou patrão. Mas levou um golpe do destino. Meses depois a extração industrial do diamante foi proibida nesta área. Hoje apenas o garimpo artesanal é permitido. Garantia de preservação do Meio Ambiente e um fio de esperança nos sonhos do Seo Salvador.

Agradecimento:
ICMBio
PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS GUIMARÃES

Fonte: Via EPT
V

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