sexta-feira, junho 22, 2012


 

Agente de trânsito Marco Antonio Santos de Souza aponta para o local de um dos atropelamentos

“Quatro pessoas morreram, uma delas na minha frente. Foi uma paraguaia de 19 anos. Eu pedi para ela atravessar na passarela, mas ela foi pela pista e acabou atropelada”, conta o agente de trânsito Marco Antonio Santos de Souza, que indica onde a tragédia aconteceu. No espaço em que a vítima tentou atravessar, ainda há resquícios de uma antiga faixa de pedestres quase apagada, hoje incompatível com a velocidade de 90km/h permitida nas vias que circundam o Aterro do Flamengo.

Além da mulher paraguaia, também foi atropelada uma estudante gaúcha chamada Marília Feijó, segundo amigos seus presentes no evento. Completam a lista dois catadores de material reciclável, segundo Anderson Lopes de Miranda, presidente do Movimento Nacional da População de Rua. “A Rio+20 não foi organizada para nós, para quem não tem carro. Os eventos oficiais foram realizados no RioCentro, que é longe. Isso não foi por acaso”, defende Miranda. Outros agentes de trânsito ouvidos pela reportagem confirmaram que pelo menos quatro pessoas foram atropeladas e mortas na região no período. 

Velocidade
O espaço que reuniu movimentos sociais, povos indígenas, sindicalistas e ambientalistas, entre outros, é cercado por avenidas de alta velocidade e fica ao lado da região central, onde é comum a presença de pedestres. As distâncias entre as poucas passarelas que conectam o Aterro do Flamengo com o restante da cidade exigem esforço por quem opta por chegar ao local com as próprias pernas; tornando-se, por vezes, um impeditivo para o acesso. A reportagem presenciou centenas de pessoas correndo para atravessar as avenidas, muitos dos quais estrangeiros que não estão acostumados com cidades onde a prioridade no trânsito é o fluxo e não o pedestre e o respeito à vida. 

Apesar da gravidade da situação, não foi tomada nenhuma medida para redução da velocidade das vias durante a realização de eventos da Cúpula dos Povos. O limite em si, apesar de alto, 90 km/h, não é respeitado pela maioria dos carros ou motoristas de ônibus, estes últimos sempre apressados e agressivos. Questionada sobre o assunto, a CET não se pronunciou. Os agentes destacados para monitorar a região tentaram impedir que os pedestres atravessassem fora da passarela, mas pouco puderam fazer dada a circulação constante de centenas de pedestres pelo local. Durante toda a Rio+20 medidas para tentar garantir a circulação dos carros e impedir engarrafamentos foram a prioridade dos engenheiros de trânsito locais.


Agente aborda grupo e tenta convencer os pedestres a caminharem até a distante passarela

Os engarrafamentos são comuns não só em eventos especiais, mas na rotina da cidade. Durante a conferência, foram realizados diversos debates sobre mobilidade sustentável e sistemas de trânsito mais eficientes, que priorizam transporte coletivo em detrimento de transporte individual, mas, na prática, a imprensa local pouco falou de mudanças possíveis. Manifestações populares foram apresentadas como mobilização de “desocupados e irresponsáveis”, simplificadas como meros obstáculos ao trânsito, mesmo as que visam mudanças para a melhoria da mobilidade de todos - como a Pedalada Mundial (World Bike Ride) que aconteceu na noite desta sexta-feira, 21. 

Para o governo e para os telejornais locais, a prioridade foi o fluxo na Rio+20. E pelo menos quatro pessoas morreram atropeladas. 



Daniel Santini
O Eco

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